O clima como violação dos Direitos Humanos
Por Clarice Ledur
Publicações - 02/05/2024 às 11:06
Um grupo, denominado Mulheres Idosas pela Proteção do Clima, entrou com um processo no Tribunal Europeu de Direitos Humanos, no dia 09 de abril, contra o governo da Suíça, alegando violação dos direitos humanos dos seus cidadãos ao não fazer o suficiente para conter as mudanças climáticas.
O caso vem sendo visto pelos mais importantes juristas do direito climático do mundo como um precedente para fortalecer e empoderar aqueles que alegam violação dos direitos humanos, responsabilizando governos nos Tribunais.
A principal alegação do grupo é de que a Suíça não cumpriu a meta de redução das emissões de carbono, considerada um problema de má gestão climática.
As autoras, todas mulheres com 64 anos ou mais, alegaram que a sua saúde foi exposta a riscos graves, durante as ondas de calor causadas pelo aquecimento global. Consideram que o governo suíço não fez o suficiente para mitigar o aquecimento, violando direitos humanos.
O caso vem sendo visto como um precursor de uma demanda nacional e internacional de casos semelhantes, com reflexos na litigância climática, projetando preocupação a outros países no cumprimento de suas metas.
No caso da Suíça, a promessa seria de redução de 20% na emissão de gases com efeito estufa até 2020, em comparação com os níveis de 1990. O país reduziu apenas cerca de 11%.
A Suíça serve de exemplo em índices de educação, civilidade e organização política e social. E demais países, como o Brasil? Impossível pensar em ações semelhantes imputadas ao Governo, uma vez que até emissões de carbono são difíceis de mensurar em um território com dimensões continentais, onde ainda muitas organizações desconhecem a regulamentação de processos industriais nocivos.
Infelizmente, ainda estamos engatinhando quanto à preservação do meio ambiente. Exemplos ganham paralelismo no desmatamento da Amazônia, o descarte impróprio de lixo, seja na não observância da coleta seletiva em ambiente doméstico, bem como em locais públicos. Em datas como Carnaval, Ano Novo e outros feriados, toneladas de detritos são retirados das praias, ruas e avenidas, numa demonstração de total desleixo por parte da população, como se nada disto tivesse relação com as questões climáticas.
No cenário local, poucos conhecem a legislação sobre controle de emissões de carbono, falta presença de entidades estaduais e municipais que atendam a esta demanda, faltam esclarecimentos e vontade política, frente a tantas outras dificuldades que um país em desenvolvimento enfrenta.
O exemplo da Suíça é válido, mas infelizmente, insuficiente para acordar populações ainda despreocupadas ou desinformadas sobre a importância do clima no dia a dia de todos nós. O aquecimento global está aí, para quem queira ou não acreditar na sua existência, com ou sem judicialização. Que a iniciativa do grupo Mulheres Idosas pela Proteção do Clima possa servir de alerta para países aptos a lidar positivamente com o tema.