Livros Jurídicos que Fazem Cabeça

Por Marco Túlio De Rose

25/07/2025 às 11:20

Livros Jurídicos que Fazem Cabeça
Marco Túlio De Rose é sócio fundador da De Rose Advogados (OAB/RS 9.551)
Marco Túlio De Rose é sócio fundador da De Rose Advogados (OAB/RS 9.551)

Eles, os Juízes (IV)

 

         As exigências de uma certa uniformidade nas vestes forenses, bem como a própria toga que vários tribunais ainda mantêm, pode parecer para muitos uma regra antidemocrática no primeiro caso e um anacronismo no segundo.

 

         Piero Calamandrei, no eterno “Eles os Juízes Vistos por Nós Advogados” pensa o contrário, pois argumenta, e para mim convence, que as duas exigências de etiqueta visam tornar os defensores cada vez mais iguais, não importa o charme (às vezes a sedução) de suas vestes ou o atrativo de suas silhuetas corporais. Leia-se, pois melhor explica que o cronista:

 

      “Gosto da toa não pelas mangas largas, que dão solenidade aos gestos, mas pela sua uniformidade estilizada. Corrige de modo simbólico todas as intemperanças pessoais e nivela as desigualdades individuais dos homens sob o uniforme escuro do cargo. A toga, igual para todos, reduz aquele que a envergou a ser na defesa do direito ‘um advogado’. Da mesma forma, quem se senta no alto do Tribunal é ‘um juiz’, sem acréscimo do nome ou de títulos".

 

     É de muito mau gosto fazer aparecer sob a toga, na audiência, o professor Tito ou o comendador Caio, e seria falta de educação virar-se no decorrer da causa para o Presidente ou para o Ministério Público tratando-os por Sr. José ou Sr. Caetano. A cabelereira dos advogados ingleses, que pode parecer um anacronismo ridículo, tem a vantagem de afirmar a supremacia da função sobre o homem, de esconder a pessoa do profissional. Este pode ser calvo ou encanecido: a profissão não muda de ideia nem de aspecto.

 

      E o grande processualista, mas, acima de tudo, o grande cronista da cena judiciária termina com a seguinte lição, eternamente válida enquanto houver foro e litígios nele sendo resolvidos:

“Advogado excelente é aquele de quem, terminados os debates, o juiz já não se lembra dos gestos, nem da cara, nem do nome, lembrando-se dos argumentos, que saídos de uma toga sem nome, tiveram a virtude de fazer triunfar a causa do cliente.”