Saúde Não Tem Preço, Cuidados com a Saúde Têm
Publicações - 30/03/2023 às 09:00
Por Marco Tulio De Rose
Quando se ouve que a Agência Nacional de Saúde Suplementar incluiu no rol um medicamento cuja única dose ultrapassa dez milhões de reais, costuma-se receber, como resposta, que “saúde não tem preço”.
Quem diz essa verdade, não gosta de escutar a objeção que o plano de saúde tem preço e este é pago pelos seus beneficiários, a quem os custos são, mais cedo, ou mais tarde, atribuídos.
Quem se apega neste ditado, que é extremamente válido no ponto de vista individual, abstrai que a própria Previdência Social, quando custeia tais remédios caríssimos, recebe um baque no seu orçamento que impacta planos coletivos que salvam milhares, para não dizer milhões de vida.
A verdade é que o custo, aliás o alto custo desses medicamentos, representa um choque brutal em qualquer regime de saúde, seja público ou seja privado. Os recursos, numa ou noutra esfera, são finitos e o que se põe em um lado, se tira de outro.
Dir-se-á que isto apenas diminui os lucros da saúde suplementar. A verdade é que esses lucros, via de regra dimensionados na receita, são volumosos apenas se não for considerada a despesa, a chamada sinistralidade. Feito esse racional cálculo, é uma atividade que deixa pouca recompensa financeira, tanto é que o número de entidades que penetram neste mercado é e vem sendo reduzido, por falta de atrativos.
A atual sistemática de inclusão no rol desses medicamentos, ainda que se possa dizer que atende a previsão legal, pode gerar, para a entidade contemplada com um ou dois desses casos, em um exercício, dependendo de seu porte, uma derrocada irrecuperável. A médio prazo, isto significa ampliar o processo de concentração financeira no setor da saúde suplementar, que se não fosse a especialíssima categoria das cooperativas operadoras da rede Unimed, seria imenso.
A ninguém pode interessar que haja tantas operadoras quanto hoje existem bancos no País, pois a concentração na saúde implica em perda absoluta do controle de um sistema que cuida da higidez de um terço da população brasileira.
Impõe-se uma nova Lei, que dê uma disciplina distinta a esse dilema, hoje existente, entre cuidar da saúde de um e prejudicar, em custos e investimentos, a saúde de muitos.
Esta Lei deverá unir interesses privados, públicos, securitários e passar uma parcela de risco substancial aos fabricantes dessas drogas de estratosférico custo, de resultados muitas vezes de discutível sustentabilidade, para as quais sistemas de saúde como o brasileiro são um belo piloto gratuito de provas.
Também é verdade, que se saúde não tem preço, os cuidados com ela têm!