POVO SEM TERRA NA TERRA SEM DONO

Por Clarice Ledur

30/01/2024 às 09:40

POVO SEM TERRA NA TERRA SEM DONO

                 A sociedade poderia contribuir para ajudar a resolver o abandono e degradação submetida aos povos indígenas, em especial os Yanomamis?

 

                Com certeza, mas não em um Brasil tão multifacetado, onde a realidade do Norte não encontra eco nas demais e vice-versa, o que dificulta um erguer de vozes, um esforço coletivo para alterar esta situação, frente a um cotidiano permeado pela tecnologia, que cada vez mais exacerba o individualismo.

 

                Simultaneamente, Governo sai, Governo entra, promessas não faltam, mas, na prática, nada acontece. O garimpo, mesmo que reduzido, continua a ser um dos maiores causadores da precariedade dos povos indígenas, mergulhados num palco em torno de rios contaminados pelo mercúrio, onde já não há mais peixes, vegetação nativa, apenas miséria, acúmulo de lixo e detritos, onde alimentos e animais escasseiam pela insalubridade da água e do solo.

 

                Desnutrição, pneumonia, malária foram os causadores nos últimos anos do extermínio de parte desta população e de sua cultura, resultando na crise humanitária de 2023, levando inclusive a Ministra Marina Silva a declarar, em janeiro do ano passado, que haveria uma “megaoperação” para acabar com o garimpo em Roraima e em seu entorno.

 

                Outros anseios sociais, políticos e econômicos culminaram no afastamento do tema e discussão por parte da grande mídia, somados à permanência do garimpo, a voz calada da sociedade e a ausência do Governo para preservar saúde, meio ambiente e cultura destes povos.

 

                É este tripé que pede atenção e planejamento imediato, devolvendo um meio ambiente saudável capaz de recuperar terras e rios invadidos, produção e sustento dos indígenas em sua região, com a saúde chegando neste rastro. Medicamentos, cuidados, atenção permanente e rigorosa segurança pública pedem urgência, com um olhar à preservação de vidas e cultura do que resta dos indígenas. Um legado que, se não preservado, irá se diluir no espaço e no tempo, pouco deixando de dignidade, qualidade de vida e sobrevivência a esta população, negando história e tradição às novas gerações, ou seja, parte de um patrimônio cultural que deveria servir de orgulho ao país.