Uma Exposição que Merece Visita

                                    O Multipalco do Teatro São Pedro recebe, até 16 de agosto, uma exposição diferente. Com o título “Memórias Encontradas entre a Solidariedade e a Perseguição”, ela traz o registro fotográfico e histórico de cerca de 50 jovens que se refugiaram, em setembro de 1973, na Embaixada da Argentina em Santiago do Chile, para fugir da tortura, ou mais certamente da morte, que certamente teriam se tivessem caídos nas mãos das forças armadas chilenas, que derrubaram o governo de Salvador Allende, presidente eleito daquele País.

                                                               Explico aos mais jovens 

                                      O Chile, naquele tempo, tinha um governo legitimamente eleito, em eleições limpas, que foi sendo tumultuado, com greves que paralisaram a distribuição de alimentos do País e acabou sendo derrubado, em um golpe militar apoiado pelos Estados Unidos e por multinacionais interessadas em desestabilizar o governo chileno. Julio Cortázar, o grande escritor argentino, narra que entre os financiadores dos golpistas estavam multinacionais de medicamentos que não perdoavam o Presidente, o médico Salvador Allende, por ter adotado, no País, apenas a lista de medicamentos permitidos pela FDA, a agência estatal que licencia os remédios nos Estados Unidos...

                                      O golpe do Estado que se concretizou com bombardeiro de aviões militares chilenos ao seu próprio palácio de governo, durante o qual o Presidente Allende se suicidou para não ser assassinado, como era o plano dos golpistas, deu um banho de sangue no Chile (quem quiser se informar mais, leia o livro “Casa dos Espíritos” da escritora Isabel Allende). Vários jovens da América Latina, num tempo de politização bem diferente do atual, viviam no Chile, vezes colaborando espontaneamente com obras sociais do governo socialista. Com o triunfo dos golpistas, eram presos e a maior parte deles torturado ou morto, dentro do Estádio Nacional de Santiago, transformado no maior campo de concentração da História da América Latina.

                                      Muitos se refugiaram na Embaixada Argentina em Santiago, posto que a Argentina, ao tempo, ao contrário do Brasil (que participou ativamente do golpe militar no Chile), tinha um governo democrático que recebia os refugiados. Havia bom número de brasileiros, entre eles o cineasta e escritor Tabajara Ruas. Um bom número dali saiu para ser capturado, preso por culpa nenhuma, ou torturado até a morte...

                                      A Comissão Provincial pela Memória da Argentina, levantou fotos com identificação de todos os refugiados e esse material está na exposição que o Movimento de Justiça e Direitos Humanos, pelo impulso do incansável Jair Krischke, trouxe agora a Porto Alegre.  

                                      Professores de História das escolas, jovens que porventura cruzarem esse artigo, usem um pouco de seu precioso tempo para visitar o anexo (linda obra de arquitetura) do São Pedro e olhem o rosto daquelas moças e moços (os sobreviventes andam hoje pelos 70 ou mais). Vejam se não se identificam com aquelas fotografias que expõem olhares esperançosos num futuro melhor, querendo a felicidade não apenas para si, mas para todos, principalmente para aqueles massacrados por condições ontem e hoje as mais desiguais do Planeta. Seguramente, nos olhos daqueles eternos jovens, encontrarão muito do brilho atual dos seus.