O CASO LILIAN E UNIVERSINDO JUSTIÇA TARDIA QUE SE FAZ

Por Marco Tulio de Rose

Publicações - 10/02/2023 às 09:18

O CASO LILIAN E UNIVERSINDO	 JUSTIÇA TARDIA QUE SE FAZ

         Em 1978, época em que Argentina, Brasil, Chile e Uruguaia viviam sobre o jugo de ditaduras militares sanguinárias, um casal de uruguaios, Lilián Celiberti e Universindo Rodrigues, líderes políticos e sindicais, com seus dois filhos, foram sequestrados em Porto Alegre, por militares uruguaios, com a cumplicidade de policiais brasileiros, e levados para o Uruguai.

 

         O sequestro político teve falhas organizacionais, a tal ponto que os dois uruguaios, mal haviam sido removidos para o Uruguai, onde certamente a morte clandestina os esperava, e a imprensa brasileira, através do jornalista Luiz Cláudio Cunha, correspondente da Revista Veja, consegue acessar o apartamento onde os dois residiam, são ameaçados à mão armada e conseguem identificar o policial, ex-jogador de futebol, que atendida pelo apelido de Didi Pedalada.

 

         Começa uma intensa campanha comandada pelas denúncias da imprensa, pelo ativista dos Direitos Humanos Jair Krischke (foto) e pelo advogado Omar Ferri, que repercute no Uruguai, onde o soldado Hugo García Rivas, hoje exilado político na Noruega, conseguem que os filhos do casal fossem entregue à família e que Lilian e Universindo, pouco tempo depois, fossem libertados.

 

         A responsabilização pelo bárbaro ato, chamado aqui de “sequestro dos uruguaios”, levou ao banco dos réus o delegado Pedro Seelig e Didi Pedalada. Em que pese a fortíssima acusação levada a efeito pelo promotor Dirceu Pinto e pelo advogado Omar Ferri, Seelig escapou, mas Didi foi condenado.

 

         No Uruguai, de onde nasceu a ideia criminosa, passados 44 anos, há dias atrás, a juíza criminal Silvia Urioste processou, com prisão, a Carlos Alberto Rosell e Glauco Yanone, militares que participaram do sequestro. O chefe da operação frustrada, Eduardo Ferro, aguarda julgamento, apenas que na prisão, por ter comandado o assassinato do ativista político Oscar Tassino.

 

         Jair Krischke, comentando o fato, limitou-se a dizer: “44 anos é muito tempo, mas se fez um pouco de Justiça”.

 

         Pouco a pouco, como a Europa após a derrocada do nazifascismo, a América Latina vai recontando sua história.